Um teatro que não morre jamais

O Balcão (1987), de Antonio Cadengue

O Balcão (1987), de Antonio Cadengue

Por Duda Martins

Há alguns dias, recebi de um mero espectador uma confissão de amor. Não por mim, claro. Amor pelo teatro, e como este primeiro encontro foi avassalador e inesquecível. Há cerca de 45 anos, Odilon Medeiros, foi levado ao teatro pela primeira vez por um amigo. A peça em questão era “Toda Nudez será Castigada”, com Susana Costa e o pessoal do Skene. Segundo ele, “foi amor a primeira apresentação”.

Mas uma montagem pernambucana, em especial marcou sua vida (deve ter sido inesquecível também para muita gente). “O Balcão” (1988), de Jean Genet, em uma montagem de Antonio Cadengue, com os alunos do Curso de Formação do Ator da UFPE, a primeira encenada no então Centro Experimental Apolo, hoje o Teatro Hermilo. Para revelar a grandeza desta montagem cito alguns nomes na época envolvidos, além do diretor Cadengue: Beto Diniz, Marcos Vinícius, Lúcia Machado.

Esta última citada, Lúcia Machado, é de uma força no palco sem tamanho e sua atuação chamou atenção do então estudante Odilon, que hoje tem 50 anos e lamenta que as obrigações profissionais acabaram o afastando do teatro.  Mesmo assim, me mandou uma carta que escreveu após assistir àquela montagem (há mais de 25 anos). “Não resisti e escrevi uma mensagem para ela, que nunca foi entregue. Ainda a encontrei nos meus papéis velhos. O que você acha de entregar para ela? Escaneei. Olha o resultado”. Vejam que relíquia um mero espectador pode ter nas mãos.

Consultor, palestrante e professor e escritor no blog www.odilonmedeiross.blogspot.com.br/

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“À Lúcia Machado e demais estrelas.

De repente, apaga-se a luz. A expectativa aumenta. O que surgirá?

como um raio que foi disparado por alguma estrela encantada, surge na frente dos simples humanos, um ser desconhecido em nossa terra. Um ser capaz de sentir e de viver, vários seres, quase que simultaneamente e, com uma energia surpreendente, faz com que os mortais sintam as mais variadas emoções, como da alegria à tris­teza ou do amor ao ódio.

Este ser tem a capacidade de hipnotizar com suas metamorfo­ses: é uma mulher alienista. e muito mais, é uma atriz: é lúcia machado. É óbvio que toda a classe teatral pernambucana está passan­do por grandes momentos, porém, o trabalho da grande Lúcia Machado em “O Balcão”, é algo de fantástico.E sua interpretação não pode e não deve deixar de ser registrada na história do teatro per­nambucano.

A plateia está de pé. Palmas para você, Lúcia, e para toda a constelação teatral pernambucana.

Hoje, mais amadurecido, com certeza as palavras seriam diferentes (mas talvez a mensagem não). Tudo de bom”.

Tudo de bom, mesmo. =)

2 comentários em “Um teatro que não morre jamais

  1. Lívia disse:

    Muito massa! Que carta linda…quanta sensibilidade para discorrer sobre alguém e seu talento.

  2. Maria Arilena Soares disse:

    Belíssimas considerações do Odilon Medeiros ao trabalho da grande dama do teatro pernambucano, Lúcia Machado.

    Maria Arilena Soares

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